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Nem tudo é Ansiedade

segunda-feira, 20 de junho de 2016

Nem tudo é Ansiedade



No senso comum as definições para ansiedade não são claras e muitas vezes confusas.  Popularmente se utilizam vários exemplos para tentar traduzir esses sentimentos, como não conseguir dormir (insônia), preocupação excessiva e até comer demais (sendo esse muito comum).

Para entender melhor o seu significado é preciso entender, primeiramente,  que ansiedade não traduz, necessariamente uma doença.  Ou seja, a ansiedade pode ser algo normal, presente na maioria dos animais e que poderia (grosseiramente) ser resumida na capacidade desses animais (inclusive nós mesmos) reagirem, defensivamente, frente a situações ambientais.
De um modo geral, a maioria dos animais se utiliza dessas reações primitivas de percepção do perigo para preservação da vida através do instinto de fuga e luta. 
O “cérebro reptiliano” assim chamado, formado por medula espinhal e porções basais do prosencéfalo é capaz de identificar situações de perigo.  É responsável por padrões de comportamento mais instintivos (sendo essa a característica predominante nos répteis) onde não existe o raciocínio lógico ou emoção.
Entre outras funções, essa porção do cérebro se assemelha a um sistema binário na identificação do perigo, resultando em mecanismos de fuga ou luta.  Essa porção “menos humanizada” do nosso sistema nervoso central não tem a capacidade de aprender com seus erros, não tem capacidade de sentir nem de pensar.  Sua função é apenar atuar.
É por isso que costumamos dizer que o medo é algo que pode ser irracional. 

Entendendo esse conceito inicial de ansiedade, podemos compreender a importância que esse mecanismo teve na preservação da nossa espécie.  Nos primórdios da humanidade o mundo era muito mais perigoso que hoje e era importante ter os seus “sensores de perigo” presentes e funcionantes.  Isso não deixava muito espaço para a racionalidade.

Com a evolução da nossa espécie, adquirimos novas funções cerebrais que foram assumidas pelo sistema límbico (emoções) e neocórtex (raciocínio).  Surgiu então algo que mudou totalmente o comportamento do homem como indivíduo, que foi a percepção de sua própria existência.  Talvez sejamos os únicos seres que desenvolveram a capacidade de reconhecimento de sua existência em uma “linha de tempo” com entendimento de passado, presente e futuro.
Gradualmente, o homem passou a viver num mundo menos selvagem onde sua posição na base de uma cadeia alimentar não era mais tão evidente.  Como predador e conquistador do ambiente, o perigo passou a se manifestar principalmente na capacidade de se manter alimentado e de não faltar alimentos.  O perigo passa, evolutivamente, a não ser algo tão “palpável” mas algo que poderá se manifestar futuramente.  Isso porque, como dito antes, o homem passa a ter percepção de sua própria existência e percepção de sua posição em uma “linha de tempo”.  Ao conseguir usar essas percepções ao seu favor, o homem passou a ter novas vantagens evolutivas.  Entendendo que os recursos eram limitados e poderiam acabar, o homem começou a se preocupar com armazenamento e criou técnicas de obtenção de recursos que culminaram no advento da agricultura e pecuária.  O homem deixou de ser coletor e caçador para gradualmente dominar o ambiente a sua volta.
Podemos entender que aquilo que motivou os homens a mudar de nômades (caçadores, coletores) para sedentários com possibilidade de prosperação, foi a percepção que a vida errante não era tão boa e a moradia fixa poderia oferecer vantagens.

Essa é a “parte boa” da ansiedade.  Quando percebemos que algo a nossa volta não está bom, somo motivados a tentar fazer algo novo, algo diferente do que vem sendo feito até o momento e que, para nós, não se mostra suficiente para alívio desse nosso desconforto.  Assim, um desconforto, uma percepção de um ambiente desfavorável, a identificação de “algo ruim” serve como base para a prosperidade.

Mas há, também, formas de manifestação da ansiedade que nos “paralisa” e que nos atrapalha, impedindo que tomemos decisões para melhorar nossas angústias.  É aqui que se identificam os “transtornos ansiosos”, ou a ansiedade traduzida como doença.  São esses transtornos ansiosos como o pânico, a ansiedade generalizada e as fobias que comumente são relatados como "ansiedade" de um modo geral pelas pessoas.

De um modo geral, então, é possível entender que nem toda a manifestação de ansiedade é algo ruim para nós e dependemos disso até mesmo para as nossas tomadas de decisões.  Entretanto, quando se apresenta de forma descontrolada, a ansiedade pode ser origem de estados patológicos, dando origem aos transtornos ansiosos.

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