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Transtorno Dismórfico Corporal

domingo, 13 de setembro de 2009

Transtorno Dismórfico Corporal

Entrevista de Dr. Daniel Medeiros à Revista Vitta, disponibilizada na íntegra.

O que é Transtorno Dismórfico Corporal?

O TDC é um transtorno mental no qual a pessoa acredita que é portadora de algum defeito em sua aparência. Geralmente o defeito é imaginário mas, por vezes, alguma pequena anomalia pode estar presente sendo que é percebida de forma acentuada pelo paciente. Quase sempre os portadores referem um profundo sentimento de vergonha por se julgarem muito feios ou deformados.

O que desencadeia esse Transtorno?

Não existe uma causa única definida. Entretanto se percebe que a “uniformização” dos padrões de beleza associado a uma preocupação excessiva em ter uma aparência adequada (seguindo esses padrões) pode ser origem do aumento do desconforto em relação a auto-imagem

É importante lembrar que não existem pessoas iguais. Entretanto podemos partilhar de algumas semelhanças dentro de um grupo ou etnia. Esses padrões de variações podem ser facilmente reconhecíveis na cor da pele, tipo de cabelo, traços fisionômicos (ex. o nariz adunco dos judeus) ou tipo de corpo (brevelinio, longilinio).

Cada vez mais, seguindo as tendências de globalização, as pessoas cultuam um padrão uniforme de beleza. A associação desses padrões de beleza a “sucesso”, “bem estar” e “felicidade” (comumente explorado nos comerciais) faz com que as pessoas busquem desesperadamente por formas corpóreas que muitas vezes não são adequadas para sua raça ou padrão genético. Vemos o exemplo de orientais que se submetem a cirurgias palpebrais para se tornarem mais “ocidentalizados”.

Esse Transtorno é associado a outros? Quais?

Existem alguns autores que sugerem que esse transtorno poderia ser uma variante do Transtorno Obsessivo Compulsivo. Os sintomas depressivos frequentemente estão presentes justamente pelo fato da pessoa não estar contente com a própria imagem levando invariavelmente à insegurança e baixa auto estima.

Li que a dismorfofobia também é conhecida como “feiúra imaginária”. Você poderia me explicar isso?

Segundo a Classificação Internacional de Doenças Edição 10 (CID10) um dos critérios diagnósticos para o TDC é uma “recusa persistente de aceitar a informação ou reasseguramento de vários médicos diferentes de que não há nenhuma doença ou anormalidade física.”. Ou seja, apesar de todos não perceberem os defeitos relatados pelo paciente, ele persiste acreditando e sofrendo por causa disso.

Como funciona o tratamento? Quanto tempo dura?

O tratamento normalmente consiste de farmacoterapia associado à psicoterapia. O tempo de tratamento depende dos resultados variando de paciente para paciente.

Que tipo de medicamentos são utilizados?

A medicação de base são antidepressivos, mais especificamente os inibidores seletivos da recaptura de serotonina. Existem relatos de associação de antipsicóticos no tratamento de casos mais graves.

Existe alguma terapia complementar para o tratamento?

Sempre que precisamos encaminhar o paciente para uma terapia complementar devemos levar em conta os tratamentos que, baseado em evidências, tem resultados comprovados. Para o transtorno dismorfico corporal a psicoterapia cognitivo comportamental parece ser a mais indicada.

O que é trabalhado durante as sessões?

O conteúdo das sessões é variado, pois os motivos que levam ao desencadeamento dos sintomas podem ser diferentes de paciente para paciente. Mas sempre é importante que o relacionamento familiar seja um tópico a ser trabalhado. Pode não ser uma regra, mas na maioria dos casos a manutenção dos sintomas pode estar relacionada a uma organização disfuncional dos vínculos familiares. A percepção da auto-imagem também deve ser obrigatoriamente trabalhada no tratamento visto que essa é a expressão da doença per se. Entretanto, esse nem sempre deve ser o único motivo de discussão nas sessões.

Por que mesmo depois de um procedimento cirúrgico, alguém que sofre com a dismorfobia não fica satisfeito?

Justamente porque o problema não está no corpo, mas sim na maneira como o paciente o percebe. Se uma pessoa portadora desse transtorno não se sente satisfeita com o formato de seu nariz e se submete a um procedimento cirúrgico, é muito provável que, mesmo com a aprovação de outras pessoas, ela não se sinta satisfeita e acabe a se submetendo a outro procedimento.

Essa sensação de insatisfação causa impactos no comportamento das pessoas podendo limitar sua vida pessoal?

A CID10 (Classificação Internacional de Doenças 10ª Ed.) relata que os sintomas de ansiedade e depressão estão frequentemente presentes nesses pacientes. É comum que as pessoas sofram gravemente com seus sintomas chegando a ter prejuízos laborais e pessoais. A incapacidade no trabalho não é incomum visto que muitas pessoas experimentam grande desconforto quando se expõem a situações públicas. Também devido a isso, os pacientes experimentam prejuízos sociais importantes com declínio nos relacionamentos interpessoais.

Qual o perfil das pessoas que sofrem com esse problema?

Não existem características especificas. Entretanto, pessoas portadoras do transtorno (ou com risco de desenvolver) possuem uma preocupação excessiva com forma e beleza e recorrem a repetidamente a recursos com objetivo de melhorar sua imagem.

A dismorfobia atinge mais homens ou mulheres? De qual faixa etária?

Parece não existir diferença entre homens e mulheres. A idade mais comum de inicio dos sintomas é na adolescência ou inicio da idade adulta.

Dr. Daniel Bittencourt de Medeiros - médico psiquiatra, Járaguá do Sul-SC

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Um comentário

  1. Dr.Daniel parabéns pela entrevista a revista Vitta,e pela publicação da mesma em seu blog,foi através desta publicação que esta associada ao DIGnow (diretórios de Blog) que eu tomei conhecimento da sua entrevista.Esta é a vantagem da divulgação de postagens como esta ,e a oportunidade de alcançar maior numero de leitores.Muitas pessoas desconhecem ou até mesmo nunca ouviram falar deste transtorno,e por motivos como este ,ela e bastante esclarecedora e pode servir como ponto de partida e até mesmo como um insight para pessoas que conhecem alguém que seja portadora deste transtorno.No CID 10 em F45.2 Hipocondria, em seu texto se refere a Dismorfofobia (corporal) (não- delirante ).A minha pergunta é,o transtorno dismórfico corporal está associado segundo alguns autores,ao transtorno obsessivo compulsivo.eu me questiono se no processo diagnostico,os critérios adotados para tal conclusão de diagnostico em relação ao dismórfico, não pode ser confundido,quando se sabe, que em F F45.2, esta associado a fobia. O transtorno dismórfico se está relacionado ao TO não poderá também está algumas vezes associado a uma fobia? Obrigado pela oportunidade do comentário, e mais uma vez parabéns pela postagem.

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