Mitos e verdades sobre antidepressivos
Apesar da comprovada eficácia dos antidepressivos, existe
uma série de preocupações e suposições em torno de tema quem nem sempre se
confirmam. Tire suas dúvidas.
1- Antidepressivos, ansiolíticos e tranquilizantes são nomes
diferentes para as mesmas coisas.
Falso: No fim da década de 1950, a descoberta de drogas
antidepressivas trouxe um avanço importante no tratamento e no entendimento de
possíveis mecanismos subjacentes aos transtornos depressivos. Tornou a
depressão um problema médico passível de tratamento, semelhante a outras
doenças como o diabetes e a hipertensão arterial. Os antidepressivos são
medicamentos com mecanismos de ação complexos utilizados para tratar quadros depressivos
e uma gama de transtornos psiquiátricos.
Os ansiolíticos, popularmente chamados como tranquilizantes,
são representados, a grosso modo, pelos medicamentos da classe dos
benzodiazepínicos. O efeito ansiolítico dos benzodiazepínicos pode ser visto nas
primeiras seis semanas de uso, sendo esse período de tratamento suficiente para
até 50% dos pacientes.
2- Os antidepressivos viciam.
Falso: Quando as pessoas questionam se uma determinada
medicação vicia, ela está interessada em saber se existe risco de dependência
ao fazer uso regular daquele remédio. Segundo a Classificação Internacional das
Doença (CID 10), a dependência é definida por um padrão mal-adaptado de uso de
substância, levando a prejuízo ou sofrimento clinicamente significativo, de
acordo com critérios bem definidos, entre eles:
1. Necessidade
de quantidades progressivamente maiores da substância para adquirir a
intoxicação ou efeito desejado;
2. Acentuada
redução do efeito com o uso continuado da mesma quantidade de substância;
3. A
substância é consumida para aliviar ou evitar sintomas de abstinência;
4. A
substância é frequentemente consumida em maiores quantidades ou por um período
mais longo do que o pretendido;
5. Existe um
desejo persistente ou esforços malsucedidos no sentido de reduzir ou controlar
o uso da substância;
6. Muito
tempo é gasto em atividades necessárias para a obtenção da substância ou na
recuperação de seus efeitos;
7. Importantes
atividades sociais, ocupacionais ou recreativas são abandonadas ou reduzidas em
virtude do uso da substância;
8. O uso da
substância continua, apesar da consciência de ter um problema físico ou
psicológico persistente ou recorrente que tende a ser causado ou exacerbado
pela substância.
Os antidepressivos não estão associados a desenvolvimento de
sintomas de dependência de substância, segundo os critérios da CID 10, exceto
por sintomas de retirada que podem ocorrer e, portanto, a sua introdução,
manutenção e retirada devem ser orientadas pelo médico. Essa preocupação, no
entanto, é verdadeira para as medicações do grupo dos benzodiazepínicos
(tranquilizantes).
3- Deixam as pessoas “dopadas”.
Falso: O avanço da pesquisa em psicofarmacologia de
antidepressivos vem oferecendo aos pacientes substâncias com perfis
farmacocinéticos, de tolerância e de interações com outras drogas bastante
diferentes entre si. Verifica-se um esforço no sentido de aperfeiçoar cada vez
mais a ação em sítios receptores determinantes da eficácia clínica, evitando
aqueles responsáveis pelos efeitos colaterais.
4- Antidepressivos danificam o cérebro ou alteram a
personalidade?
Falso: Os antidepressivos não influenciam de forma acentuada
o organismo normal em seu estado basal, apenas corrigem condições anômalas
(doenças). Em indivíduos sem pré disposição a estados patológicos do humor, não provocam efeitos estimulantes ou
euforizantes.
5- São a única forma de tratamento para a depressão.
Falso: Existem tratamentos não farmacológicos para quadros
depressivos, assim, quadros depressivos leves podem ser tratados com
psicoterapia, enquanto quadros depressivos muito graves, com
eletroconvulsoterapia, por exemplo.
6- Qualquer médico pode prescrever antidepressivos.
Verdadeiro: O código de ética médica, no seu capítulo
segundo, discorrendo sobre os direitos do médico diz: é direito do médico
indicar o procedimento adequado ao paciente, observadas as práticas
cientificamente reconhecidas e respeitada a legislação vigente.
Adaptado do Texto Original de
Antonio Carlos Cruz Freire / CRM BA16992
Médico psiquiatra, professor de psiquiatria da Escola
Bahiana de Medicina e Saúde Pública (Bahiana), preceptor do Programa de
Residência Médica do Hospital Juliano Moreira (HJM), diretor técnico do HJM e
do Espaço Bom Viver, doutorando em Medicina e Saúde Humana pela Bahiana.
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